Transcrição de uma entrevista para o podcast Poder Público do Jornal Público publicada a 19 de novembro de 2018 após as eleições legislativas no Luxemburgo e Baviera e locais na Bélgica. A entrevista foi feita por Ruben Martins e pode ser ouvida aqui.
Como justificas o crescimento exponencial dos Verdes nas sondagens a nível nacional, e também nas eleições regionais da Baviera?
As eleições no último fim-de-semana, na Baviera mas também no Luxemburgo e na Bélgica, mostraram basicamente o que está a acontecer também noutros sitios. Nos Países Baixos – na Holanda – e na Finlândia, os Verdes têm crescido bastante nos últimos meses, no último ano. Isso mostra basicamente três coisas. Uma, que já tinhamos visto à algum tempo é que as pessoas estão a precisar de mudança depois de, nalguns casos, 40-50 anos de democracia, as pessoas ficaram um bocado fartas da política como estava a acontecer. Depois o que os Verdes têm para oferecer, e que também a extrema-direita ofereceu há cerca de 1-2 anos, é que temos valores claros. Neste caso valores completamente opostos, os Verdes e a extrema-direita estão em lugares opostos em termos de valores, mas ambos têm valores claros. E em terceiro lugar, para os Verdes em específico o que acontece é que temos uma mensagem que veio muito direito ao que as pessoas estão a sentir, principalmente nos grandes centros urbanos – que é onde vive a maior parte da população europeia – que são mensagens bastante claras em termos de ambiente, de mobilidade urbana, de habitação, também de imigração onde não fazemos uma divisão entre “nós” e “outros” e que as pessoas realmente estão a sentir que vai de facto aquilo que são as suas preocupações.
Nos últimos tempos temos sido confrontados com o crescimento de mensagens anti-imigração. O crescimento dos Verdes nas sondagens mostra que há espaço para quem defende uma Europa aberta?
Exacto. Mas acho que essa mudança é mais mediática do que real, porque o que aconteceu durante os ultimos tempos é que havia esta minoria muito barulhenta, anti-imigração, enquanto a população na maior parte da Europa não é anti-imigraçao. Por exemplo, em Portugal nós conhecemos a realidade da imigraçao, no sentido contrário dos Portugueses irem para o estrangeiro, e não existe este sentimento generalizado anti-imigração. E o que os Verdes fizeram foi quebrar esta lógica que havia dos partidos mais estabelecidos em que a maneira de lutar contra o medo que a extrema-direita estava a provocar era basicamente copiar a mensagem deles e descer um tom ou dois. O que os Verdes mostraram foi que de facto se pode fazer política com estes valores a favor de todas as pessoas, por exemplo no Luxemburgo onde os Verdes entraram no governo há 5 anos atrás. O Luxemburgo é um caso muito particular porque mais de metade da população não tem direito a voto em eleições nacionais porque não têm a nacionalidade luxemburguesa – incluindo muitos portugueses, que são a maior comunidade estrangeira no Luxemburgo – e os Verdes chegaram ao governo, lançaram um referendo para dar o direito de voto a estas pessoas – infelizmente sem sucesso – mas, por exemplo, agora nas eleições nacionais o deputado Verde com mais votos preferenciais foi Félix Braz que é um luso-descendente, e portanto os Verdes por toda a Europa não tiveram medo de lançar esta mensagem pró-imigraçao de uma sociedade inclusiva e agora estamos a conseguir mudar esta mensagem mediática que estava formada.
Vamos a números e aqui olhamos para a Alemanha. A sondagem realizada entre 12 e 14 de novembro mostra a CDU de Merkel a ganhar as eleições com 26% dos votos, mas logo atrás estão os Verdes com 23%. São 3 os pontos percentuais de diferença. Nas últimas legislativas alemãs os Verdes ficaram a 24 pontos percentuais da CDU de Merkel. Filipe, quais é que são as perspectivas para as próximas eleições europeias – já em Maio do próximo ano? Os Verdes Europeus, na tua visão, vão ter mais eurodeputados?
Sim, de facto estamos a prever um resultado histórico para os Verdes. Esperamos ter o maior grupo parlamentar da história dos Verdes Europeus. Isto numa situação bastante complicado pois com o Brexit – a saída do Reino Unido da União Europeia – os Verdes vão perder 6 eurodeputados, que era uma das maiores delegações nacionais, e no entanto com o crescimento que estamos a ter um pouco por toda a Europa vamos conseguir substituir essa perda e ainda crescer mais. O impacto deste crescimento dos Verdes vais ser bastante grande em termos legislativos no Parlamento Europeu, mas também para influenciar o seu impacto na Comissão Europeia – pois desde 2014 que as eleições europeias têm essa ligação direta com o próximo Presidente da Comissão Europeia – e também aí um grupo parlamentar dos Verdes Europeus maior e mais potente poderá influenciar para termos uma Comissão Europeia com melhores resultados.
E tens uma justificação para que em Portugal não haja um grande peso político para os partidos que têm uma mensagem mais ecologista como o Partido Ecologista “Os Verdes” e o LIVRE, apesar de existirem muitos movimentos sociais ligados ao que os Verdes defendem ao nível europeu?
É um facto, mas é uma coisa que não é só portuguesa. Portugal tem as suas particularidades, é um país onde as pessoas tendem a votar naquilo em que já conhecem, há muita dificuldade em apresentar pessoas novas à política – e vemos isso no parlamento português onde apenas o deputado único do PAN pertence a um partido que não estava presente no parlamento português desde o início da democracia – mas é algo que também acontece na Espanha e na Grécia. As origens dos partidos Verdes na Europa têm basicamente três origens: a luta contra o nuclear, principalmente na Europa de Leste a experiência pós-comunista e os movimentos de paz na guerra fria. E em Portugal nenhum desses três momentos foi muito potente o que torna o ecologismo político em Portugal tem de se adaptar a esta realidade. Mas mesmo assim temos tido alguns sucesso, nos últimos 4 anos com este governo mais plural temos tido o PEV – que é o partido Verde em Portugal – como outros partidos da área da ecologia política como o PAN têm conseguido influenciar o governo a tomar medidas mais ecologistas. Não o suficientes, poderiamos ter muito melhor, mas esta adaptação em Portugal, na Espanha e também na Grécia a esta realidade local temos conseguido mesmo assim bastantes sucessos.